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O Consumo da Música no Século XXI


Foto: Ryan McGuire
Se ao longo de décadas passadas, pessoas lotavam teatros e casas de shows para usufruírem da música, hoje, seu consumo em grande parte é muito mais passivo e menos aprofundado. Não há dúvidas que a 1ª arte tem seu espaço reservado na vida de quase todos nós, porém muito se fala sobre a boa musica estar morrendo e os grandes sucessos não passarem de meros produtos. Geralmente é citado o baixo consumo de mídia física e a falta de potencial dos novos grandes artistas como os principais culpados, mas será que isso é verdade ? Neste artigo, este autor irá tentar explicar a situação atual da música, analisando algumas ideias e fazendo comparações entre o hoje e o ontem.

 Valorização da mídia física X Superficialidade das playlists


Primeiramente devemos levar em consideração que estamos vivendo numa sociedade onde a circulação de conteúdo é extremamente mais veloz do que a 15 anos atrás. Diariamente somos bombardeados de informações e não conseguimos nos aprofundá-las, criando um hábito de saber sobre tudo de uma maneira superficial. Nossa atitude não é diferente em relação à música, pois o fato de estarmos cercados de novos artistas classificados como inovadores e com carreira promissora faz com que fiquemos perdidos diante de tanto conteúdo para se escutar.
De uma forma mais clara, vamos comparar a sua forma de consumo neste intervalo de tempo. Até o começo dos anos 2000, o consumo de música se iniciava ao ouvir algo que lhe atraísse no rádio ou na televisão. Caso quisesse ouvir determinada música novamente, suas opções basicamente eram:
  • Esperar que a reproduzisse novamente, dentre várias musicas da programação;
  • Comprar o disco (exigindo um certo esforço financeiro) ou conhecer alguém que o tivesse para pegar emprestado e gravar numa Cassete/CD-R;
  • Ir ao show (geralmente não muito barato quando se trata de artistas internacionais).
Isto fazia com que o público fosse mais seleto em escolher o conteúdo que iria consumir e desfrutasse melhor de cada obra, já que eram poucos que tinha condição financeira de sempre comprar um disco. Diante dessas situações, qualquer acesso mais aprofundado ao trabalho de determinado artista se tornava muito mais valioso. Era comum saber cada detalhe da capa de um disco, a ordem das músicas, o nome do produtor, o estúdio em que foi gravado. O mesmo acontecia em relação a histórias, curiosidades e notícias, que só eram obtidas pela televisão ou revistas.
Hoje, além destes meios de comunicação já citados, temos a democratização, cada vez maior, da internet e o auge das redes sociais. Se quisermos conhecer alguma música, basta entrarmos em qualquer serviço de streaming para ter acesso a tudo o que gostamos e sugestões do que podemos gostar. Desta forma, cercado de tantas atrações e pouco tempo, nos sentimos cada vez mais tentados a optar pelas playlist. Assim, nos limitamos somente ao conteúdo presente nela, sem o menor interesse de saber o conceito por trás de determinada música, álbum ou artista.
Isso nos leva a concluir que a superficialidade no consumo da música e a falta de valor agregado a tal é o principal fator do para o baixo consumo de mídia física. Afinal, se a mídia digital não é consumida em sua forma completa, certamente a sua forma física também não tem o proveito que deveria, transformando-se em um item mais voltado para colecionadores.

Musicas ruins que fazem sucesso


Foto: The Telegraph

Provavelmente você já ouviu frases como "Não se faz mais música como antigamente." a respeito de um determinado hit que está bombando. Isto se torna ainda pior quando você enxerga que de fato a música não tem nada de atrativo, ou seja, letra pouco estruturada e repetitiva, melodias pobres e redundantes, falta de originalidade e um ritmo pulsante pra tentar torná-la mais dançante (?). Mas qual seria o motivo desses hits serem tão populares ?
Este autor enxerga duas razões que justifiquem este fato. Uma delas é que as pessoas estão cada vez mais habituadas a ouvirem músicas fáceis de cantar, com melodias fortes e menos complexas. Além disso também há uma certa resistência em ouvir algo fora do seu habitual, se prendendo sempre ao que gosta e aos modismos criados pelo mercado fonográfico. A segunda razão seria o fato de grande partes desses hits se tratarem de uma obra mercadologicamente pensada para atrair um determinado público. Diferente do passado, a música não tem mais necessidade de ser original e ter uma boa qualidade artística. Inclusive, há alguns estudos que comprovam a existência características de determinada canção sendo reproduzidas em várias outras com uma nova roupagem (como é mostrado neste vídeo). Esta é uma forma de obter a atenção dos mesmos apreciadores para novos hits, fazendo com que inconscientemente se sintam familiarizados e passem a consumi-los. Esta reciclagem musical também contribui para a padronização musical e aumento da resistência das pessoas a novos gêneros (como já foi mencionado anteriormente).

Artistas que não conseguem o destaque merecido e a ausência cultural estabelecida pela grande mídia


Foto: @cltampabay

Os motivos citados anteriormente também contribuem para que determinados artistas que produzem trabalhos de ótima qualidade não alcancem o mainstream. Porém, ainda temos o velho costume de consumir o que a grande mídia nos mostra. Diariamente, nos deparamos com muito conteúdo sem utilidade nos meios de comunicação, afinal este é o principal tipo de conteúdo midiático atual.
Felizmente, a internet nos proporciona uma certa liberdade em escolher o que queremos consumir, portanto cabe a nós correr atrás do que está acontecendo e não só esperar que nos seja mostrado. Ao contrário do que muita gente pensa, a boa música ainda existe, porém leva um certo gasto de tempo para encontrá-la. Existem diversas bandas e músicos em nosso país, que não aparecem na grande mídia, cantam no nosso idioma e são muito mais populares no exterior do que aqui no país de origem. Diferente de ontem, as megabandas estão diminuindo cada vez mais e os pequenos nichos se multiplicando, assim passando a falsa sensação de que não tem nada acontecendo de novo na música, enquanto estamos vivendo em um período extremamente fértil.

Agora quero saber a sua opinião. Como você consome música ? Acha que ela está morrendo ou só estamos passando por uma transformação ? Quer acrescentar algo ? Comente o seu ponto de vista para que possamos aprofundar mais no assunto.



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