Resolvi ressuscitar este blog para um último post no qual falarei sobre a banda que deu origem ao nome dele, o Vímana. Esta foi uma banda de Rock Progressivo da segunda metade dos anos 70, na qual tinha Lulu Santos, Lobão e Ritchie na sua formação. O título da postagem foi baseado em algo falado por Ritchie, em uma entrevista para o Gafieiras, definindo o grupo como "a banda mais famosa que ninguém nunca ouviu".
Ao contrário dos outros artigos deste blog, que geralmente são curtos, este é bastante longo e foi montado com base no que foi contado em entrevistas pelos próprios integrantes e sites confiáveis da web. Desta forma, busquei comparar as diferentes histórias e traçar uma o mais autêntica possível. Me desculpo pelo tamanho do texto, que parece maior ainda devido à formatação do blog, mas não faria o menor sentido falar sobre esta banda se não fosse reunindo em um único lugar tudo o que pudesse ser encontrado sobre o grupo.
Assim, encerro definitivamente as atividades deste blog que nunca veio a crescer, pois sua duração foi extremamente curta, servindo apenas como uma ótima experiência para falar sobre alguns assuntos que julgava interessante e mostrar para alguns amigos. Caso queira consultar a fonte original, a bibliografia está disponível nos comentários.
Segundo boatos não confirmados, com o fim do Veludo Eletrico, Fernando Gama (baixo) teria iniciado um novo projeto junto dos ex-membros do Módulo 1000, Luiz Paulo (teclado) e Candinho (Bateria). Esta nova banda seguiria os passos do Módulo, porém com arranjos mais trabalhados. Logo em seguida, Fernando teria recomendado seu ex-companheiro de banda, Lulu Santos, para o posto de guitarrista.
Segundo relatos, o grupo estreou com um ótimo show, sendo marcado principalmente por músicas longas e muita improvisação, já que tinha poucas músicas. É importante dizer que Luiz Paulo Simas se destacava bastante no grupo. O tecladista foi o primeiro da cidade (ou talvez, até no Brasil) a ter um sintetizador e esta inovação tecnológica, além de chamar muita atenção pela sua sonoridade, também abriu portas para o músico. Nesta época, já havia contribuído em algumas músicas do segundo disco do Terço, no barulho da mosca em Mosca na Sopa de Raul Seixas e ainda viria a criar o Plim Plim da rede Globo.
No ano de 1975, o grupo se apresentou no festival Hollywood Rock, organizado por Nelson Motta. No campo do Botafogo, o festival reuniu cerca de 10 mil pessoas em cada um dos seus quatro dias. O Vímana tocou no terceiro dia, ao lado da banda carioca O Peso e do rock progressivo do Terço. A apresentação do grupo acabou sendo prejudicada por problemas no som, logo após abrirem com a música Perguntas. Rita Lee & Tutti Frutti, Mutantes, Veludo, Erasmo Carlos, Celly Campelo e Rauzito também participaram deste mesmo festival.
Ritchie conheceu Rita Lee e Liminha em Londes. O britânico aceitou o convite de Rita de visitar a Serra da Cantareira e desembarcou no Brasil em 72, onde não quis mais sair. O vocalista e flautista participou das bandas Scaladácida (onde nunca chegou a gravar nada devido a sua situação irregular no país) e do A Barca do Sol, o qual participou do debut lançado em 74. Porém, Ritchie acabou deixando a banda e ingressou no Vímana.
“Eles achavam que era sacrilégio eu cantar em português. Acabei me desentendendo e, praticamente no mesmo dia, encontrei Lulu e Luiz Paulo:
– Pô, a gente estava esperando você sair dessa merda pra chamar você." – Ritchie para Folha de S. Paulo, 1998.
Acompanhados de Ritchie, a banda estava se preparando para as apresentações na peça Feiticeira de Marília Pêra, organizada por Nelson Motta. Em um desses ensaios, estava João Luiz Woerdenbag Filho, mais conhecido hoje em dia como Lobão. Na época, ainda com 17 anos, o baterista já havia assistido à uma apresentação do grupo no Bruni Copacabana e era fã do Módulo 1000. Sob indicação de seu amigo Ignácio, que encontrou com Lulu numa loja de discos, ele foi convidado a este tal ensaio no teatro Casa Grande.
“Eu estava numa loja de discos, e uns garotos lá fora, na vitrine, apontavam para mim, fazendo gestos. Um deles, Rui Márcio, entrou e disse:
– Você não é o Lulu, do Vímana? – Sou. – Não está precisando de baterista? – Estou. – Eu conheço o melhor baterista do Brasil.– Como chama? – Lobão." – Lulu Santos para Folha de S. Paulo, 1998.
A banda já havia feito alguns testes com Rui Motta (que estava tocando com os Mutantes) e Azael Rodrigues (ex-Scaladácida), porém eles não puderam seguir no grupo. Na época, Lobão estava se dedicando ao estudo de violão clássico com o intuito de um dia se tornar maestro e queria largar as baquetas. De certa forma, até fingia que não gostava do que a banda tocava e ao ser convidado por Lulu para subir no palco, não hesitou em fazer uma levada de samba para contrariar o grupo.
“Eu pensei: Vou meter aquela levada de escola de samba e sair o mais depressa daqui. Estava apavorado, mas alguma coisa me fascinava naquilo tudo. Peguei as baquetas e saí tocando uma levada de escola de samba frenética por uns dois minutos. Ao contrário do que esperava, os caras ficaram impressionados. O Lulu puxou logo um groove, o Fernando foi atrás e todos caíram dentro. Eu nunca tinha tocado numa estrutura com um nível profissional! No final de uma hora, já tínhamos ensaiado uma música: On the Rocks.” – Lobão, livro 50 Anos a Mil, 2010.
Em decorrência da avalanche hippie que tomou o Brasil, a popularidade da banda começou a crescer, mas seus shows se restringiam somente ao Rio de Janeiro mesmo. Nos anos de 75 e 76, podemos destacar como importante a apresentação no festival Banana Progressiva, a temporada no MAM (esta que será comentada mais pra frente) e o Festival de Saquarema (também organizado por Nelson Motta). Este último, marca o encontro de Lobão e Júlio Barroso (na época, ainda um hippie jornalista que escrevia para uma revista chama Música do Planeta Terra), figuras importantíssimas para a carreira de ambos e eternos grandes amigos. Além disso, em meio ao público, estava Patrick Moraz, tecladista suíço que havia acabado de deixar o Yes.
No mesmo ano, a banda foi convidada a estrear o primeiro
estúdio de 24 canais do Brasil, o estúdio Level (Rua Assunção, Botafogo), que
logo viria a ser a sede da Som Livre. Agora, com a proposta de abrir mão da
improvisação e gravar músicas mais diretas, a banda partiu para o estúdio,
registrando o material para um disco completo e acabou sendo contratada pela
gravadora.
“Lulu, inclusive, havia procurado o nosso querido Big Boy para uma consulta e ele recomendou que nossas músicas fossem mais curtas, música pra tocar no rádio... Foi quando o Lulu chega retumbante da rádio Mundial e profere:
– Vamos fazer canção, vamos tocar no rádio. Se a gente não toca no rádio, a gente não existe. Temos que parar com essa frescura de tocar só pra elite da Zona Sul...
Aquela declaração seria o início da transformação de todos os nossos conceitos…” – Lobão, livro 50 Anos a Mil, 2010.
No ano de 77 foi lançado primeiro e único material oficial do Vímana, o compacto Zebra/Masquerade. A música presente no lado A chegou a fazer um certo sucesso nas rádios locais, comprovando que a nova proposta era mesmo o caminho certo.
Embora Patrick tenha se interessado pela banda, Lulu logo começou a se tornar uma exceção ao olhar do tecladista, visto que ele pretendia inserir o guitarrista Ráy Gomez, que havia gravado seu disco. Outro ponto era que o relacionamento de Lulu com o resto da banda já estava ficando desgastado. Embora fosse uma época marcada pelo surgimento de muitas bandas de Rock no país, o gênero ainda era visto como algo desconhecido pela grande massa. Isto dificultava a possibilidade do grupo seguir uma carreira que fosse significantemente rentável, fazendo com que a escolha de seguir com Patrick parecesse a melhor a se fazer. O clima tenso dos primeiros ensaios em Itaipava foi a gota d’água, que acarretou na saída do guitarrista em 78.
Os integrantes do Vímana continuavam ensaiando exaustivamente para sua turnê na Europa, até que um dia, após uma viagem de volta a Londres, Patrick chega com uma sacola cheia de discos sobre um novo gênero musical que estaria no topo. Este gênero era completamente antagônico ao Rock Progressivo, pois possuía músicas curtas e diretas, sem nenhum tipo de virtuosidade. O Punk Rock havia chegado para ficar e este era o fim do que restou do Vímana.
O movimento Punk e o relacionamento entre Lobão e a esposa de Patrick fez com que a banda acabasse. A partir de agora, três dos integrantes que fizeram parte desta formação se tornariam grandes nomes da música brasileira e assim elevando muito mais o nome desse grupo.
Embora o único lançamento oficial do grupo seja Zebra (1977), existem outros registros que surgiram ao longo do tempo. Dentre alguns autênticos e outros duvidosos, buscarei analisá-los a seguir.
O mais conhecido é a coletânea On The Rocks, cujo seu surgimento é desconhecido. Ela é composta pelas inéditas Perguntas, On The Rocks e Cada Vez, tocadas ao vivo no MAM, além das gravações oficiais já mencionadas (tanto da banda quanto de outros artistas) e mais uma da primeira faixa mencionada, no Hollywood Rock.
Na entrevista do Luiz Paulo para o Discobertas, ele comenta sobre esta coletânea dizendo que o Lobão falou sobre um pirata está circulando com uma gravação com palmas falsas dizendo ser o Vímana ao vivo.
“Essa gravação foi feita assim... A gente tinha dado uma entrevista na rádio JB, tocado várias das músicas do LP que ia sair e eu me lembro da gente gravando com um microfonezinho de rádio de pilha. É essa gravação que as pessoas têm.” – Luiz Paulo Simas, entrevista do canal Discobertas, 2007.
No YouTube também é possível encontrar algumas coisas. No canal de um tal de João Alves, tem três vídeos que, segundo a descrição, foram retirados do programa do Big Boy. Estas que são as músicas Masquerade, Perguntas e On The Rocks, possuem uma qualidade de gravação bem superior a da coletânea. Em outro canal, o de Kebaran Rocha, existem mais dois vídeos que correspondem às músicas Marimba e Kuluene. A primeira, trata-se de uma composição instrumental acompanhada de uma percussão pra lá de brasileira e a segunda é uma música cantada, com uma sonoridade um tanto mística. Na descrição dos vídeos, consta que fazem parte do LP nunca lançado, já outros sites dizem se tratar da fase Patrick Moraz. Na entrevista do Luiz Paulo que foi recentemente mencionada, quando o entrevistador menciona o registro com percussão, ele comenta sobre o grupo ter participado de pouquíssimas gravações do projeto com Moraz. Outra dessas é Secret Garden, a qual a voz se assemelha bastante com a de Ritchie.
Fora desta rede social, também é possível encontrar outras composições para download. Estas que são Tem Gringo no Choro, Cromática e Just a Matter Of Life. Sendo a primeira instrumental e as duas últimas cantada, também são enquadradas na fase com Moraz. Outra faixa disponível é Speedway, que aparentemente pertence ao LP nunca lançado, já que possui uma vinheta que anuncia o nome da banda e o da rádio EldoPop.
Em uma página dedicada ao grupo, possui uma lista de canções que consta a letra de Das Pedras e Calvary como parte do disco perdido.
Por último, um registro oficial mas que não é sob o nome de Vímana, é a música O Mistério, lançada no Acústico MTV (2007) do Lobão. Em uma cena extra, o músico comenta que esta é uma canção do grupo, composta na época em que eles buscaram uma proposta mais direta e que por ninguém lembrar da existência dela, optou por inseri-la no repertório.
Em relação as músicas, as supostas gravações com o Moraz realmente apresentam uma qualidade de gravação superior às do LP nunca lançado e, embora esta época tenha sido marcada por uma experimentação tão intensa ao ponto de todas essas bandas acabarem soando iguais, nos leva a crer que realmente fazem parte desta fase do Vímana. A única exceção vai para Tem Gringo no Choro, visto que Patrick havia feito algumas gravações com percussionistas em 1976 e pelo fato de ser uma músicas instrumental, acaba gerando bastante dúvida. As letras de Das Pedras e Calvary, não possuem nenhum registro além do site mencionado (que também não apresenta fontes da pesquisa), logo não considerarei estas músicas como genuínas.
Na entrevista com Luís Paulo no canal Discobertas, o músico comenta que só voltaria ao grupo se fosse para criar algo novo. Acredito que esta afirmação já traduz o sentimento dos integrantes em relação ao passado, afinal toda sua fama só veio através do sucesso póstumo de três de seus membros e que nada se assemelha com o grupo. Outro ponto é que o único que guarda boas recordações é o Lobão, que já se referiu a banda em diversas entrevistas e trouxe influências sessentistas no seu último trabalho. Os outros membros se vêem em cenários totalmente diferentes do Rock Progressivo e aparentemente sem nenhuma pretensão de mudar. Portanto, ao meu ver, um retorno do Vímana é algo improvável e sem sentido até então.
Ao contrário dos outros artigos deste blog, que geralmente são curtos, este é bastante longo e foi montado com base no que foi contado em entrevistas pelos próprios integrantes e sites confiáveis da web. Desta forma, busquei comparar as diferentes histórias e traçar uma o mais autêntica possível. Me desculpo pelo tamanho do texto, que parece maior ainda devido à formatação do blog, mas não faria o menor sentido falar sobre esta banda se não fosse reunindo em um único lugar tudo o que pudesse ser encontrado sobre o grupo.
Assim, encerro definitivamente as atividades deste blog que nunca veio a crescer, pois sua duração foi extremamente curta, servindo apenas como uma ótima experiência para falar sobre alguns assuntos que julgava interessante e mostrar para alguns amigos. Caso queira consultar a fonte original, a bibliografia está disponível nos comentários.
Módulo 1000 e Veludo Elétrico
A história começa no Rio de
Janeiro, entre 1969 e 1970, quando Luiz Paulo Simas e Candido Farias (Candinho)
dividiam espaço numa mesma banda, o Módulo 1000. Lançando seu primeiro compacto
Big Mama/Isto Não Quer Dizer Nada, em
70, o grupo teve sua estreia acompanhada de uma popularização crescente,
participando da coletânea A Juventude
(1970) e do V Festival Internacional da Canção no mesmo ano. No ano seguinte, os
mesmos participam da coletânea Posições
e assinam um contrato com a gravadora Top Tape. Em março de 1972, é lançado o
primeiro e único disco da banda, Não Fale
com Paredes, que recebeu uma certa atenção da mídia da época.
Sua característica é marcada por
um rock com bastante influência do que havia de mais pesado na época, acompanhado
por partes instrumentais longas e uma busca por novas sonoridades. Essa
experimentação ainda ocasionou em um último registro, o compacto The Cancer Stick/Waitin’ For Tomorrow,
lançado em 1973 sob o nome de Love Machine. Devido às letras em inglês, que
diferenciavam do que já haviam feito, o trabalho recebeu uma nomenclatura
diferente. No mesmo ano, o relacionamento entre os integrantes já estava
bastante desgastado, ocasionando no fim do Módulo 1000.
Paralelamente à esta história, também
existia um outro grupo chamado Veludo Elétrico, no qual tinha em sua formação, Luiz
Maurício (ou Lulu Santos, se preferir), Fernando Gama, Paulo Castro (Paul) e
Rui Motta. Estes que nunca chegaram realizar nenhum registro fonográfico antes
de sua dissolução em 73.
“Meu conjunto, que era maravilhoso -um foi preso, outro pirou, outro a mãe tirou-, faliu, e fui um dia tirar um som com os caras, e rolou.” – Lulu Santos para Folha de S. Paulo, 1998.Segundo boatos não confirmados, com o fim do Veludo Eletrico, Fernando Gama (baixo) teria iniciado um novo projeto junto dos ex-membros do Módulo 1000, Luiz Paulo (teclado) e Candinho (Bateria). Esta nova banda seguiria os passos do Módulo, porém com arranjos mais trabalhados. Logo em seguida, Fernando teria recomendado seu ex-companheiro de banda, Lulu Santos, para o posto de guitarrista.
Vale mencionar que, em
decorrência da sonoridade mais experimental e virtuosa iniciada junto ao
movimento hippie em 67, o Rock Progressivo estava no topo da parada musical.
Sendo 1973 marcado pelo lançamento de Dark
Side Of The Moon (Pink Floyd), o disco triplo Yessongs (Yes) e Selling
England By The Pound (Genesis). Não demorou para os brasileiros tentarem
algo nesta linha e é exatamente neste ano que está por vir, que se inicia uma
safra progressiva tupiniquim.
O Vímana, que significa
“carruagem dos deuses” em sânscrito, teve sua estreia com dois shows em dias
seguidos (30 e 31 de dezembro), na Abertura de Temporada de Rock, que ocorreu
no Teatro João Caetano. Neste festival, a banda dividiu palco com Os Mutantes
(já sem Rita e Arnaldo), O Terço e Veludo, banda originada pelo guitarrista
Paul (ex-Veludo Elétrico), que também estava em seu show de estreia.
“O Vímana é um dos
melhores grupos de rock do Brasil e foi uma das sensações do grande concerto do
João Caetano, que bateu o recorde do público daquele teatro.” – Nelson Motta. O Globo, 1974.
Segundo relatos, o grupo estreou com um ótimo show, sendo marcado principalmente por músicas longas e muita improvisação, já que tinha poucas músicas. É importante dizer que Luiz Paulo Simas se destacava bastante no grupo. O tecladista foi o primeiro da cidade (ou talvez, até no Brasil) a ter um sintetizador e esta inovação tecnológica, além de chamar muita atenção pela sua sonoridade, também abriu portas para o músico. Nesta época, já havia contribuído em algumas músicas do segundo disco do Terço, no barulho da mosca em Mosca na Sopa de Raul Seixas e ainda viria a criar o Plim Plim da rede Globo.
“Eu ouvi num disco
americano, do Blood Sweat & Tears, que tinha uns sons de efeito feitos com
uma coisa chamada sintetizador. Eu fiquei alucinado com aquilo, juntei dinheiro,
um irmão meu viajou e eu pedi pra ele comprar. Era uma coisa muito rara.
Ninguém tinha naquela época e aí eu trouxe pro Rio e comecei a gravar com todo
mundo por que todo mundo queria colocar aqueles efeitos.” – Luiz Paulo, entrevista do programa
Instrumental Sesc Brasil, 2007.
No ano de 1975, o grupo se apresentou no festival Hollywood Rock, organizado por Nelson Motta. No campo do Botafogo, o festival reuniu cerca de 10 mil pessoas em cada um dos seus quatro dias. O Vímana tocou no terceiro dia, ao lado da banda carioca O Peso e do rock progressivo do Terço. A apresentação do grupo acabou sendo prejudicada por problemas no som, logo após abrirem com a música Perguntas. Rita Lee & Tutti Frutti, Mutantes, Veludo, Erasmo Carlos, Celly Campelo e Rauzito também participaram deste mesmo festival.
Após este importante show,
Candinho entra se torna um seguidor de Maharaji. Embora o “hippismo” e a vida
em comunidade fosse algo comum para os jovens daquela geração, os hábitos de
Candinho fizeram com que ele começasse a se destoar da banda. Após gerar
algumas disparidades, o incomodo causado aos outros membros, principalmente
Lulu, foi o motivo apontado para sua saída.
Ritchie e Lobão
Enquanto não achavam um novo
baterista, os músicos se viam na necessidade de fazer outros trabalhos para se
manter. A participação do Vímana como grupo de apoio de outros artistas está registrada
nas músicas Riacho do Navio e Antônio Conselheiro, do disco Ave
Noturna (Fagner), além de Maya, em Eu
Queria ser um Anjo (Luiza Maria).
Os integrantes também estavam a
procura de um vocalista, já que Lulu estava querendo se dedicar somente à
guitarra. Neste cenário, o caminho do grupo se cruza com o de Richard David
Court.
“Eu conheci o Luiz Paulo num show do King Crimson, em Londres, e quando vim para o Brasil o reencontrei. Tinha uma banda em São Paulo, Scaladácida, que ia abrir para A Bolha no Rio. Sem modéstia nenhuma, eu limpava o chão para eles. Na plateia estava a nata dos roqueiros, e conheci essas bandas brevemente.” – Ritchie para Folha de S. Paulo, 1998.Ritchie conheceu Rita Lee e Liminha em Londes. O britânico aceitou o convite de Rita de visitar a Serra da Cantareira e desembarcou no Brasil em 72, onde não quis mais sair. O vocalista e flautista participou das bandas Scaladácida (onde nunca chegou a gravar nada devido a sua situação irregular no país) e do A Barca do Sol, o qual participou do debut lançado em 74. Porém, Ritchie acabou deixando a banda e ingressou no Vímana.
– Pô, a gente estava esperando você sair dessa merda pra chamar você." – Ritchie para Folha de S. Paulo, 1998.
Acompanhados de Ritchie, a banda estava se preparando para as apresentações na peça Feiticeira de Marília Pêra, organizada por Nelson Motta. Em um desses ensaios, estava João Luiz Woerdenbag Filho, mais conhecido hoje em dia como Lobão. Na época, ainda com 17 anos, o baterista já havia assistido à uma apresentação do grupo no Bruni Copacabana e era fã do Módulo 1000. Sob indicação de seu amigo Ignácio, que encontrou com Lulu numa loja de discos, ele foi convidado a este tal ensaio no teatro Casa Grande.
– Você não é o Lulu, do Vímana? – Sou. – Não está precisando de baterista? – Estou. – Eu conheço o melhor baterista do Brasil.– Como chama? – Lobão." – Lulu Santos para Folha de S. Paulo, 1998.
A banda já havia feito alguns testes com Rui Motta (que estava tocando com os Mutantes) e Azael Rodrigues (ex-Scaladácida), porém eles não puderam seguir no grupo. Na época, Lobão estava se dedicando ao estudo de violão clássico com o intuito de um dia se tornar maestro e queria largar as baquetas. De certa forma, até fingia que não gostava do que a banda tocava e ao ser convidado por Lulu para subir no palco, não hesitou em fazer uma levada de samba para contrariar o grupo.
No final das contas, Lobão acabou ocupando o posto de
baterista do Vímana e apesar do ótimo time de músicos no espetáculo, a
quantidade de frutos colhidos não foi bem a esperada. Inclusive, também foi
lançado um disco com as canções da obra, o qual temos a participação da banda
em Avô de Jabor, mas saiu rapidamente
do catálogo provavelmente pelo mesmo motivo da peça.
“Ao contrário do que podia imaginar,
o Vímana era uma espécie de monastério. Era um núcleo de nerds obcecados por
música.” – Lobão,
livro 50 Anos a Mil, 2010.
Em decorrência da avalanche hippie que tomou o Brasil, a popularidade da banda começou a crescer, mas seus shows se restringiam somente ao Rio de Janeiro mesmo. Nos anos de 75 e 76, podemos destacar como importante a apresentação no festival Banana Progressiva, a temporada no MAM (esta que será comentada mais pra frente) e o Festival de Saquarema (também organizado por Nelson Motta). Este último, marca o encontro de Lobão e Júlio Barroso (na época, ainda um hippie jornalista que escrevia para uma revista chama Música do Planeta Terra), figuras importantíssimas para a carreira de ambos e eternos grandes amigos. Além disso, em meio ao público, estava Patrick Moraz, tecladista suíço que havia acabado de deixar o Yes.
Cartazes do Banana Progressiva (restaurado por Billy Gibbons e Psico BR) e Festival de Saquarema. |
– Vamos fazer canção, vamos tocar no rádio. Se a gente não toca no rádio, a gente não existe. Temos que parar com essa frescura de tocar só pra elite da Zona Sul...
Aquela declaração seria o início da transformação de todos os nossos conceitos…” – Lobão, livro 50 Anos a Mil, 2010.
Fonte: Velhidade |
No ano de 77 foi lançado primeiro e único material oficial do Vímana, o compacto Zebra/Masquerade. A música presente no lado A chegou a fazer um certo sucesso nas rádios locais, comprovando que a nova proposta era mesmo o caminho certo.
Este ano também é marcado pelo encontro da grupo com o, já
citado, Patrick Moraz. O ex-Yes havia ido a uma festa e tocou junto com os
membros da banda. Tempos depois, numa visita de Luiz Paulo e Ritchie a Londres,
houve um reencontro no qual os dois deixaram uma fita com a cópia do material
gravado no estúdio. Após mais um tempo, Patrick volta ao Brasil procurando
pelos músicos do Vímana, com a proposta de que entrassem para o seu projeto
solo e fossem trabalhar no próximo disco em seu estúdio na Suíça. Embora o
vento parecesse estar apontando para direção certa, a rescisão do contrato com
a Som Livre e a ida para o exterior seria o principal motivo para o fim do
grupo.
Fonte: Velhidade |
Um ex-Yes no Vímana
“Eu dizia que a gente tinha duas
posturas naquele momento: ou virava um superconjunto brasileiro ou ia atrás do
Patrick Moraz, que apareceu querendo nos empresariar. O consenso foi ir com
ele. Ele falava em cachê de US$ 20 por apresentação, era uma coisa
absolutamente colonizadora, pirata.” – Lulu Santos para Folha de S. Paulo, 1998.
“O Patrick é uma ótima pessoa em
termos humanos e um excelente tecladista, mas ele exagera um pouco. Ele se
colocava numa posição que tudo estaria as mil maravilhas pra ele na Europa
quando na verdade não estava. Mas de qualquer modo, ele tinha algumas perspectivas
sim.” – Luiz Paulo
Simas, entrevista do canal Discobertas, 2007.
Embora Patrick tenha se interessado pela banda, Lulu logo começou a se tornar uma exceção ao olhar do tecladista, visto que ele pretendia inserir o guitarrista Ráy Gomez, que havia gravado seu disco. Outro ponto era que o relacionamento de Lulu com o resto da banda já estava ficando desgastado. Embora fosse uma época marcada pelo surgimento de muitas bandas de Rock no país, o gênero ainda era visto como algo desconhecido pela grande massa. Isto dificultava a possibilidade do grupo seguir uma carreira que fosse significantemente rentável, fazendo com que a escolha de seguir com Patrick parecesse a melhor a se fazer. O clima tenso dos primeiros ensaios em Itaipava foi a gota d’água, que acarretou na saída do guitarrista em 78.
Neste meio tempo, Lobão grava a música Um Lindo Blue que sairia no disco Respire Fundo (1978), de Walter Franco. A gravação também contou
com Lulu Santos na craviola, Sergio Dias (Mutantes) na guitarra e Arnaldo
Baptista no piano. Esta informação pode parecer irrelevante, mas ela já
demonstra dois dos grandes músicos que fariam sucesso na próxima década já
exercendo um papel diferente. Principalmente em relação ao Lobão, que atuaria
durante um tempo como baterista antes de seguir carreira solo com suas próprias
músicas.
“... era uma música pavorosa. Eles
reproduziriam um disco cujo o título era The History of I e era uma música tão
estapafúrdia, muito pior do que o Vímana era.” – Lulu Santos para MTV.
“...Ele achava o Lulu provavelmente
muito menos maleável e a outra coisa era o estilo de tocar guitarra do Lulu.
Era um estilo muito diferente do que ele é hoje. Era muito mais próximo de John
McLaughlin (Mahavishnu Orchestra), complicado, cheio de harmonia dissonante.
Isso não ia muito com o que o Patrick queria do grupo.” – Luiz Paulo Simas, entrevista do
canal Discobertas, 2007.
Os integrantes do Vímana continuavam ensaiando exaustivamente para sua turnê na Europa, até que um dia, após uma viagem de volta a Londres, Patrick chega com uma sacola cheia de discos sobre um novo gênero musical que estaria no topo. Este gênero era completamente antagônico ao Rock Progressivo, pois possuía músicas curtas e diretas, sem nenhum tipo de virtuosidade. O Punk Rock havia chegado para ficar e este era o fim do que restou do Vímana.
“Foi a primeira vez que ouvi falar de
Madness, Ian Dury, Elvis Costelo, Specials, The Tourists, Ramones, Dead
Kennedys, Sex Pistols, Clash... um mundo absolutamente diferente e antagônico a
tudo que havia me tornado até então! O Patrick declarou que era o fim, que
aqueles supergrupos que fizeram uma era estavam obsoletos e eram sinônimo de
velharia e cafonice... o rock progressivo jamais se recuperaria desse tombo...” – Lobão, livro 50 anos a mil, 2010.
O movimento Punk e o relacionamento entre Lobão e a esposa de Patrick fez com que a banda acabasse. A partir de agora, três dos integrantes que fizeram parte desta formação se tornariam grandes nomes da música brasileira e assim elevando muito mais o nome desse grupo.
Lulu Santos participa do disco 20 Palavras ao Redor do Som (1979) de Cátia França. Em 1980, lança
seu primeiro compacto em carreira solo, Melô
do Amor/Gosto de Batom. Este que já apresentava a sonoridade que o
consagraria a partir de Tempos Modernos
(1982).
Em 1983, Ritchie lança seu primeiro disco, Vôo de Coração, que conquista todo o
Brasil com os hits Menina Veneno, A Vida Tem Dessa Coisas, Vôo de Coração, e Casanova.
Lobão segue como baterista da Marina Lima, Gang 90 & As
Absurdettes e Blitz. Em 1982, lança seu primeiro disco, Cena de Cinema, que é originado de uma demo e que acaba saindo de
catálogo devido a desavenças com o dono da gravadora. Seu primeiro trabalho
significativo só vai sair em 1984 junto d’Os Ronaldos, o disco Ronaldo Foi Pra Guerra.
Em relação aos outros membros, Luiz Paulo resolveu dar um
tempo e posteriormente atuou como músico de apoio até iniciar sua carreira solo
tocando Jazz, MPB e Bossa Nova. Fernando Gama entrou para os Mutantes em 78 e
posteriormente tocou junto do Boca Livre. Já Candinho, fez parte do Santarem,
com o qual gravou o álbum homônimo lançado em 1980.
Gravações
Embora o único lançamento oficial do grupo seja Zebra (1977), existem outros registros que surgiram ao longo do tempo. Dentre alguns autênticos e outros duvidosos, buscarei analisá-los a seguir.
O mais conhecido é a coletânea On The Rocks, cujo seu surgimento é desconhecido. Ela é composta pelas inéditas Perguntas, On The Rocks e Cada Vez, tocadas ao vivo no MAM, além das gravações oficiais já mencionadas (tanto da banda quanto de outros artistas) e mais uma da primeira faixa mencionada, no Hollywood Rock.
Na entrevista do Luiz Paulo para o Discobertas, ele comenta sobre esta coletânea dizendo que o Lobão falou sobre um pirata está circulando com uma gravação com palmas falsas dizendo ser o Vímana ao vivo.
“Essa gravação foi feita assim... A gente tinha dado uma entrevista na rádio JB, tocado várias das músicas do LP que ia sair e eu me lembro da gente gravando com um microfonezinho de rádio de pilha. É essa gravação que as pessoas têm.” – Luiz Paulo Simas, entrevista do canal Discobertas, 2007.
No YouTube também é possível encontrar algumas coisas. No canal de um tal de João Alves, tem três vídeos que, segundo a descrição, foram retirados do programa do Big Boy. Estas que são as músicas Masquerade, Perguntas e On The Rocks, possuem uma qualidade de gravação bem superior a da coletânea. Em outro canal, o de Kebaran Rocha, existem mais dois vídeos que correspondem às músicas Marimba e Kuluene. A primeira, trata-se de uma composição instrumental acompanhada de uma percussão pra lá de brasileira e a segunda é uma música cantada, com uma sonoridade um tanto mística. Na descrição dos vídeos, consta que fazem parte do LP nunca lançado, já outros sites dizem se tratar da fase Patrick Moraz. Na entrevista do Luiz Paulo que foi recentemente mencionada, quando o entrevistador menciona o registro com percussão, ele comenta sobre o grupo ter participado de pouquíssimas gravações do projeto com Moraz. Outra dessas é Secret Garden, a qual a voz se assemelha bastante com a de Ritchie.
Fora desta rede social, também é possível encontrar outras composições para download. Estas que são Tem Gringo no Choro, Cromática e Just a Matter Of Life. Sendo a primeira instrumental e as duas últimas cantada, também são enquadradas na fase com Moraz. Outra faixa disponível é Speedway, que aparentemente pertence ao LP nunca lançado, já que possui uma vinheta que anuncia o nome da banda e o da rádio EldoPop.
Em uma página dedicada ao grupo, possui uma lista de canções que consta a letra de Das Pedras e Calvary como parte do disco perdido.
Por último, um registro oficial mas que não é sob o nome de Vímana, é a música O Mistério, lançada no Acústico MTV (2007) do Lobão. Em uma cena extra, o músico comenta que esta é uma canção do grupo, composta na época em que eles buscaram uma proposta mais direta e que por ninguém lembrar da existência dela, optou por inseri-la no repertório.
Reflexões do autor
Nesta última seção, farei algumas reflexões através de hipóteses e dos dados apresentados. Assim, buscarei opinar sobre a veracidade destes registros e de um futuro retorno da banda.Em relação as músicas, as supostas gravações com o Moraz realmente apresentam uma qualidade de gravação superior às do LP nunca lançado e, embora esta época tenha sido marcada por uma experimentação tão intensa ao ponto de todas essas bandas acabarem soando iguais, nos leva a crer que realmente fazem parte desta fase do Vímana. A única exceção vai para Tem Gringo no Choro, visto que Patrick havia feito algumas gravações com percussionistas em 1976 e pelo fato de ser uma músicas instrumental, acaba gerando bastante dúvida. As letras de Das Pedras e Calvary, não possuem nenhum registro além do site mencionado (que também não apresenta fontes da pesquisa), logo não considerarei estas músicas como genuínas.
Na entrevista com Luís Paulo no canal Discobertas, o músico comenta que só voltaria ao grupo se fosse para criar algo novo. Acredito que esta afirmação já traduz o sentimento dos integrantes em relação ao passado, afinal toda sua fama só veio através do sucesso póstumo de três de seus membros e que nada se assemelha com o grupo. Outro ponto é que o único que guarda boas recordações é o Lobão, que já se referiu a banda em diversas entrevistas e trouxe influências sessentistas no seu último trabalho. Os outros membros se vêem em cenários totalmente diferentes do Rock Progressivo e aparentemente sem nenhuma pretensão de mudar. Portanto, ao meu ver, um retorno do Vímana é algo improvável e sem sentido até então.
Celso Barbieri sobre Vímana: http://www.celsobarbieri.co.uk/memorias/index.php?option=com_content&view=article&id=400:vimana&catid=21&Itemid=66
ResponderExcluirLivro "50 Anos a Mil"
Lulu Santos para MTV: https://www.youtube.com/watch?v=52zarpYVWrI
Lulu, Ritchie e Lobão na Folha de S. Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq060105.htm
Luiz Paulo Simas - Biografia: http://www.luizsimas.com/pages/bioport.html
Luiz Paulo Simas no Programa SESC Instrumental: https://www.youtube.com/watch?v=zSHTkSXGTZ4
Luiz Paulo Simas no UOL: https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/roqueiro-e-hippie-pai-do-plim-plim-renegava-autoria-de-vinheta-7540
Musicastória: https://www.musicastoria.com
Ritchie para Gafieiras: http://gafieiras.com.br/entrevistas/ritchie/14/
Velhidade: http://velhidade.blogspot.com
Parabens pelo texto, é uma excelente fonte de informações! Imagino a pesquisa que vc fez pra chegar a ele ! Grande abraço e viva o rock !
ResponderExcluirJá ouvi uma lenda de que as gravações estão guardadas a sete chaves na casa do Lulu rsrs
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